O 3º Simpósio Continental GPE-KIX sobre Pesquisa em Educação foi realizado em Adis Abeba, Etiópia, de 20 a 22 de novembro de 2024. O evento reuniu formuladores de políticas, pesquisadores e líderes educacionais de 44 países africanos.
Sob o tema "Educar um Africano para o século 21: Construindo sistemas educacionais resilientes para aumentar o acesso a aprendizados inclusivos, ao longo da vida, de qualidade e relevantes na África", o simpósio compartilhou conhecimentos, inovações e estratégias baseadas em evidências para enfrentar os urgentes desafios educacionais do continente. Aqui estão algumas das lições aprendidas.
1. O poder da colaboração e políticas baseadas em evidências
Um dos temas mais marcantes foi a importância da colaboração entre governos, pesquisadores e partes interessadas. O simpósio enfatizou o papel crucial das políticas educacionais baseadas em evidências, afirmando que pesquisas rigorosas devem informar decisões políticas para alocação eficiente de recursos, redução de desigualdades e melhoria dos resultados de aprendizagem.
No entanto, persiste uma lacuna na disseminação e utilização dos achados de pesquisa. Muitos estudos valiosos permanecem invisíveis aos decisores, limitando seu impacto. Para preencher esta lacuna, é necessário fortalecer infraestruturas de pesquisa, capacitar pesquisadores africanos e criar plataformas que promovam colaboração entre pesquisadores, formuladores de políticas e profissionais.
2. Equidade e inclusão: Não deixar nenhuma criança para trás
Equidade e inclusão foram centrais, com foco especial em grupos marginalizados (meninas, crianças com deficiência, alunos rurais e refugiados). A igualdade de gênero emergiu como questão crítica, exigindo intervenções direcionadas como bolsas, espaços seguros para meninas e combate a estereótipos sexistas prejudiciais.
A educação inclusiva para crianças com deficiência foi outro eixo principal. Abordagens inovadoras como tecnologias assistivas em Ruanda foram apresentadas. A importância do envolvimento comunitário para apoiar aprendizes marginalizados foi destacada, reafirmando que a educação é um direito humano fundamental.
3. Qualidade docente e desenvolvimento profissional
A qualidade dos professores é o alicerce de qualquer sistema educacional eficaz. O simpósio insistiu na formação inicial e continuada, especialmente em áreas emergentes como letramento digital e inteligência artificial.
A necessidade de atrair e reter professores qualificados foi discutida, com recomendações para melhorar suas condições de trabalho e reconhecer suas contribuições. Estratégias inovadoras como uso de WhatsApp para capacitação em comunidades com recursos limitados demonstraram que, mesmo em contextos desafiadores, soluções criativas podem fortalecer a eficácia docente.
4. Alavancando tecnologia e dados para transformação educacional
O potencial transformador da tecnologia foi destacado, desde robótica em Ruanda até aplicações de IA no Chade. Contudo, participantes alertaram contra a adoção acrítica de soluções "prontas", defendendo tecnologias open-source adaptáveis aos contextos locais.
A tomada de decisão baseada em dados foi outro ponto crítico. O fortalecimento dos Sistemas de Informação para Gestão da Educação (SIGE) foi identificado como prioritário, com apelos para melhorar coleta, análise e interpretação de dados.
5. Reforma curricular e descolonização
A reforma curricular emergiu como necessidade urgente, com apelos para alinhar programas às competências do século 21 e realidades locais. Houve forte demanda para descolonizar sistemas educacionais, priorizando línguas nacionais. O ensino em língua materna no primário foi visto como forma de melhorar resultados e relevância cultural.
6. Liderança e gestão: Alicerce de sistemas resilientes
Liderança escolar eficaz mostrou-se crucial para criar ambientes de aprendizagem positivos. Participantes enfatizaram a necessidade de capacitar e apoiar diretores escolares, especialmente em contextos difíceis. A descentralização da gestão educacional foi discutida como forma de promover apropriação local e responsabilização.
Da pesquisa à prática
O simpósio concluiu com um veemente apelo para traduzir recomendações em políticas e ações concretas. Prioridades incluem: investir na formação docente, aproveitar tecnologia, promover educação inclusiva e fortalecer sistemas de dados. Foi proposta a criação de uma rede de pesquisadores africanos em educação.
O desafio agora é garantir que os resultados do simpósio influenciem políticas em todos os países africanos do GPE-KIX. A iniciativa GPE-KIX estabeleceu bases sólidas, mas são necessários esforços sustentados para preencher a lacuna entre pesquisa e implementação. Trabalhando juntos, a África pode construir sistemas educacionais resilientes que equipem os aprendizes com as habilidades necessárias para prosperar no século 21.